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A mostrar mensagens de maio, 2010

Labirinto

Abarco as ausências como quem abraça o silêncio. Construo palavras, pontes entre mim e os outros. Explico-me, redefino-me. Reinvento-me. Apago-me inteira. Quem era, deixei de ser há muito. Aos poucos morri dentro de mim E renasci menos eu. Outrora conheci medos e sentimentos que me corroeram o coração. Sentia toda a intensidade lavar-me, era imensa e sabia tocar a parte mais suave da alma. Hoje sou apenas parte do que fui. E nessa parte, escondo-te. Na tua mente, existe um labirinto. Vejo-te percorre-lo tantas e tantas vezes. Escondo-te. Guardo-te, recluso no coração. E esqueço-te. Dentro do ventrículo. Não fales. Não sussurres. Não sonhes. Quem era, deixei de ser há muito. Morri dentro de mim.

Memórias

(Para C . Meu amigo, meu confiante.) Existe uma pessoa que apenas vive nas minhas memórias. É dona de sorrisos e mãos que nunca mais pousarão nas minhas. Estremecia quando pousava as mãos nas minhas. Era como se, por um momento, lesse toda a minha alma, todos os meus segredos, todos os caminhos que não ousei tomar. Quando estou parada... Nunca sei onde pousar as mãos. Deve ser por isso que aprendi a carregar livros. Para poder cobri-las. Ocupar as mãos. Escondê-las. Ás vezes esqueço-me delas desmaiadas no regaço. E as pessoas olham-me as mãos. Esquecem o tempo. Esquecem-me a mim. Existem memórias que só existem na minha memória. Vão se esbatendo como uma nuvem se dissipa. Mesmo quando pensamos que as memórias são espelhos de um acontecimento tão nítido e singular que jamais se apagarão dos nossos olhos. Ainda assim, os pormenores somem-se. Desaparecem. Suponho que seja por isso que gosto de recordar. Rir-me de piadas que o tempo gastou. Rir-me de piadas que só eu conheço o sentido.

C.

O dia presente está marcado a vermelho garrido no calendário. O dia presente infesta a minha psique com um negro obscuro. Faz dois anos que a morte colheu uma alma injustamente. Faz dois anos que a minha mente vagueia por lugares que me são alheios. Dois anos em que todos os dias cada pedaço do meu eu clama por ti. Dois anos que os meus gritos se dissipam no silêncio da minha existência. Quanto tempo passado, Quanto tempo perdido, Quanto tempo esquecido, Quanto tempo relembrado. C. 25/5/2008

Pesadelo Nocturno

Não te sinto na escuridão do quarto. Na imensidão da noite. Sei-te disperso em almas e corpos Que não os meus. Sei-te nas linhas de outros nomes, Outros rostos, outras cadências. Não estás aqui. Definitivamente. O coração que batia em uníssono Com o meu é agora um balão oco No espaço vazio que reservei para ti. Bebo cálices com a Lua Enquanto aguardo que regresses. Quedas-te certamente em lábios, Braços, dedos. És dela como nunca Foste meu.  O cordão umbilical que nos une Apodrece a cada dia. Profecia, ameaça cósmica, Sereno cair do pano. Diz-me apenas num sussurro: "onde me morres no passar da noite?"

Chuva Interminável

Sou chuva na janela, Sou chuva no teu coração a afogar-te A alma de sentidos. Sinto um frio intenso a cobrir-me os ossos. Nego a firmeza do olhar, A intensidade dos lábios a cobrir os meus, E penso, penso, penso Com as mãos quedas no papel à espera da inspiração monumental. Poesia. A eterna amante dos meus Olhos profundos. Olhos de mundo perdido em mim. Olhos com sorrisos presos Nas íris chuvosas. Sou chuva. Chuva que escorre Pelo teu corpo perdido na noite. A tua ausência é uma flor delicada No auge da sua beleza que perfuma o meu Quarto e me lembra dolorosamente Que existes num outro mundo que não o meu. E penso, penso, penso Com as mãos quedas no papel: "Quando te tornarás realidade?"

Identidade

Sinto a ira a fluir-me dos poros, A rebentar-me os últimos limites... Sinto-a rasgar-me, perfurar-me, Uma ira intensa que não tendo motivo próprio,  É toda ela motivos e motivações. És tu e eu numa batalha eterna. Tu que me deste a vida E eu que ta nego agora. A ti, que me queres manipular, agarrar, Absorver, viver por mim e Em mim. Nego-te. Repudio-te. Quero quebrar-te. Roubar-te todas as possibilidades De fuga. Delinear-te na alma Infinitas nuances de dor. Cuspir-te das minhas estradas E caminhos. Fazer-te finalmente entender Que eu sou eu e eu Sou SOZINHA, Sou minha, sou Independente, Sou Crua, Sou Distinta. Sou  EU. Alagar a tua vida Da minha ausência. E com ela gritar-te Finalmente Que toda a minha desilusão és tu. Tu ÉS. És promessa irrealizada. És um sonho feito pesadelo. És espelho retorcido de mim. Não me atirem parecenças. Eu não sou tu. Eu sou eu. Eu sou uma ave a voar no espaço  Que tu nunca soubeste sequer tocar. Colo das suas crianç

Nesses Dias

Existem dias em que a dor me queima a carne Até expôr os ossos frágeis. Nesses dias não quero ser poeta. Não quero deixá-la brotar de mim em Suaves sussurros milenares, Não quero que outros a leiam E com ela se vistam e se sintam Mais vivos, mais líricos... Existem tantos dias assim... Mais do que a minh'alma quereria Supor. Nesses dias não quero ser poeta! Não quero a falsa reflexão, Nem o calor dos teus braços, Nem a frenética marcha das horas... Não quero que me digam que vai ficar tudo bem... Quero rasgar-me... Quero arrancar-me... Quero atirar-me de um abismo e Deixar a minha carcaça podre enfeitar O vazio. Nesses dias... Não quero ser poeta. Queria apenas... NADA! Porém tu chegas e abraças o meu corpo que dança em espasmo de intensa dor... Nunca sentes saudades do nada? Eu sinto. Saudades da imensidão Que é o não-sentir, A antítese do sofrimento, Da queima. Nesses dias... Não quero amor. Não quero doces carícias. Não quero ser poeta. E eu tenho tantos dias, Tantas noit

Aquele Que É Ideal

Há em mim uma solidão nefasta Que me fala de ti. Um sopro mágico de imensidão e prata, Como um manto que me cobre E me aproxima do teu corpo e do teu Abismo. Há em ti um poderoso magnetismo Que te leva ao mundo do sonho e da bruma. Quedas-te no meu colo Ansiando pelo amor nunca partilhado, Pelas palavras jamais proferidas, Pelo sorriso não fingido. Anseias pelo vulto que é teu, E sendo teu é imprevisívelmente meu. Há em nós um traço justo, Asfixiante, que nos impele ao espaço Que é do outro e nos marca a alma E as mãos, que nos tatua os lábios Com a força implacável do tempo. Há em ti um sopro de vida e de morte Que te torna o fim e o início de tudo, Do meu coração e do meu desespero, Das lágrimas que deito apenas E tão só porque não estás aqui Onde vivo o passar do tempo Que ao não existir em nós me Mastiga o rosto e apaga Toda e qualquer recordação onde Não estejas e não existas. Tu, amor, só existes aqui, Nesta prisão, Nesta escuridão que anse

Atracção

Atrai-me. Prende-me na sensualidade dos teus lábios, Na felicidade dos teus dias. Prende-me às tuas mãos, À impetuosidade dos teus gestos comedidos. Joga comigo um jogo perigoso, Onde apostaremos as almas e os amores. Atrai-me. Porque a noite é longa e deixa a descoberto As nuvens da impaciência Com que navego de corpo e alma. Atrai-me. Invade-me, não me deixes respirar outro ar Que não o que expiras pelos teus lábios famintos! Deixa que a água escorra pela tua pele, Pelos dedos com que marcas as curvas do meu corpo! Atrai-me! Rasga-me as defesas e os sentidos, As mentiras, as falácias e as máscaras! Ensina-me todas as formas de te dar prazer... Escraviza-me. Domina-me. Atrai-me. (2º classificado no Concurso de Poesia ESJAL) MalDragon

O Fim Do Início

Incentivada por pessoas chegadas a compartilhar os meus textos e poemas, rendi-me assim ao mundo dos bloggers. Pois bem, aqui está o meu blog, que duvido sinceramente que alguém algum dia o irá ler (o que não deixa de ser uma coisa boa, porque poderei escrever o quiser sem me importar com a integridade mental dos caros leitores). Concebi este rasgo para ser isso mesmo. Um rasgo. De poesia, de escrita, de amor, de raiva, de crescimento. Um rasgo meu. Obrigado a todos os que me apoiaram até aqui, e a todos aqueles que percam algum tempo das suas vidas a ler algumas linhas deste blog. MalDragon P.S: De quando em quando, ou quando achar necessário, colocarei apartes nos posts. Os mesmos surgirão entre parênteses. P.P.S: Como é óbvio, se tiverem tempo e oportunidade gostaria que deixassem o vosso comentário (a vossa opinião sincera) pois só assim poderei crescer como artista. Obrigado.