Nesses Dias
Existem dias em que a dor me queima a carne
Até expôr os ossos frágeis.
Nesses dias não quero ser poeta.
Não quero deixá-la brotar de mim em
Suaves sussurros milenares,
Não quero que outros a leiam
E com ela se vistam e se sintam
Mais vivos, mais líricos...
Existem tantos dias assim...
Mais do que a minh'alma quereria
Supor.
Nesses dias não quero ser poeta!
Não quero a falsa reflexão,
Nem o calor dos teus braços,
Nem a frenética marcha das horas...
Não quero que me digam que vai ficar tudo bem...
Quero rasgar-me...
Quero arrancar-me...
Quero atirar-me de um abismo e
Deixar a minha carcaça podre enfeitar
O vazio.
Nesses dias...
Não quero ser poeta.
Queria apenas...
NADA!
Porém tu chegas e abraças o meu corpo
que dança em espasmo de intensa dor...
Nunca sentes saudades do nada?
Eu sinto.
Saudades da imensidão
Que é o não-sentir,
A antítese do sofrimento,
Da queima.
Nesses dias... Não quero amor.
Não quero doces carícias.
Não quero ser poeta.
E eu tenho tantos dias,
Tantas noites,
Horas miseráveis em que me perco dentro de mim...
À procura...
À procura da criança que não fui,
Das cicatrizes que me sangram,
Do colo surdo de mãe
Que me negas
E me envenenas o olhar...
Nesses dias.
É demasiado duro.
É demasiado gritante.
NÃO QUERO SER POETA.
Só quero ser eu...
Apenas eu...
E eu...sou miseravelmente pouco.
Miseravelmente humana.
Inequívocamente não-poeta.
Comentários
Belíssimo
Não se enfrenta o silencio com o gladio da solidão, não se busca alento ou esperança no consolo da ilusão do absurdo...
porque o que se crê e' no abbsurdo e nada mais, pois sõ ele nos revela quem somos e não somos quem finjimos ser e quem amamos...
e até se pode amar o nada...
Antes de seres humana, de seres mulher, de seres coisa alguma, és poeta...
És poeta e sempre serás poeta...
Raios, és poeta e sempre serás a minha poetisa preferida!
=)