Memórias

(Para C. Meu amigo, meu confiante.)

Existe uma pessoa que apenas vive nas minhas memórias.
É dona de sorrisos e mãos que nunca mais pousarão nas minhas.
Estremecia quando pousava as mãos nas minhas. Era como se, por um momento, lesse toda a minha alma, todos os meus segredos, todos os caminhos que não ousei tomar.

Quando estou parada... Nunca sei onde pousar as mãos. Deve ser por isso que aprendi a carregar livros. Para poder cobri-las. Ocupar as mãos.
Escondê-las.
Ás vezes esqueço-me delas desmaiadas no regaço. E as pessoas olham-me as mãos.
Esquecem o tempo. Esquecem-me a mim.

Existem memórias que só existem na minha memória. Vão se esbatendo como uma nuvem se dissipa. Mesmo quando pensamos que as memórias são espelhos de um acontecimento tão nítido e singular que jamais se apagarão dos nossos olhos. Ainda assim, os pormenores somem-se.
Desaparecem.

Suponho que seja por isso que gosto de recordar. Rir-me de piadas que o tempo gastou. Rir-me de piadas que só eu conheço o sentido. Rir-me de situações que só eu me lembro. Rir-me perdidamente.
E depois, ficar séria.
Estupidamente séria.

Saber que daqui a algumas estações já não me vou recordar tão nitidamente de todos os pormenores que dão o colorido à memória. Lentamente... Elas tornam-se esbatidas, a preto e branco. Por muito que as recorde... Que lhes tente dar vida. Que sorria, que chore. Que as abrace contra mim.

Quando caminho pelos corredores garridos tão meus conhecidos... As pessoas vão e vêm a uma velocidade estonteante e eu julgo sempre que estou em sentido contrário ao da multidão. Nunca vejo quem vai ao meu lado.

As memórias, essas tornam o meu rosto a preto e branco.
Aquele rosto é o único que me fica gravado na memória. As cores. As mãos que nunca fogem.
A pura inocência do olhar que nunca perde o brilho.
Se todos os olhares que revejo pelas memórias fossem a cores, a vida seria melhor. Mas são a preto e branco. E desvanecem-se. Cada vez mais. A cada dia.

As memórias... A preto e branco compõem o quadro da minha vida.
Compõem-me. Esboçam risos e lágrimas e poemas.

E é aí que C. me dá as mãos novamente.

Comentários

Lourenço disse…
Texto muito bom, adorei. Valeu a pena esperar por ele.


C, sempre.
Beijos
Raquel disse…
Adorei.... Ele iria adorar também.

Beijinhos
Cats disse…
adorei, acho uma grande reflexão...

bjins
Cally disse…
Agridoce <3
LiTTle DeViL disse…
Os bons velhos tempos... Grande pessoa que ele era
LiTTle DeViL disse…
beijinhos para ti ele, onde quer que esteja, e beijinhos para ti, que continuas a mantê-lo vivo pelas tuas memórias <3
AnaS disse…
gostei muito deste teu texto... os meus pêsames pelo teu amigo.
bjs
monica disse…
Nem quis acreditar na profundidade das tuas palavras... uma grande representação de sentimentos.

Ele era, sem dúvida, um máximo, e todos sentimos a sua falta...
Cally disse…
Não escondas as tuas mãos de mim <3
suss disse…
so hj soube que tinhas escrito sobre ele... queria ter sido a primeira a comentar! belissimo...
Peach disse…
grd homenagem, daki <3
Peach disse…
btw, excevz mt bm msm! bjs

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