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A mostrar mensagens de julho, 2010

Existem Momentos Da Vida Que Ficam Cravados Nas Nossas Cordas Vocais

…estava a ESTILHAÇAR-ME! Conheces o som da tua alma a quebrar-se em pedaços? Mais tarde quando lá voltei vi, ainda, marcas da implosão da minh'alma gravadas no chão. Tu não estavas lá. Mas por outro lado, ninguém estava. As visitas são um mundo à parte no mecanismo do hospital. São sorrisos que vestes por rotina. Ainda me lembro que a minha avó me sorria a dizer a quão boa cara eu tinha. Tinha mesmo. A doença não me roeu a cara. Roeu-me o ventre. Mas eu sorri-lhe. Eu sorrio sempre à minha deusa. Bastam-lhe os anos de tormentas e gritos para dentro do coração. Depois disso ela foi embora e eu encolhi-me, tão pequenina, tão infinitamente pequenina. Diz quem se lembra, que a minha voz soava igual a quando eu tinha 10 anos. Não duvido. Existem momentos da vida que ficam cravados nas nossas cordas vocais.

Estava A Estilhaçar-me!

Por isso se ouvem nitidamente os seus silêncios a gritar. O da mulher ao meu lado era tão ensurdecedor que me encolhia de noite na cama, com medo da sua fúria. Tinha medo que ele me arrancasse e me arrastasse pelos cabelos pelos corredores e escadas do hospital. Existe um livro em que a sua autora escreve que no hospital nunca é de noite. Eu discordo. No hospital é sempre de noite. É um sítio onde o sol nunca entra. O sol assusta-se com a palidez dos rostos cansados. O hospital fede a medo. Medo da morte, medo da vida e do sofrimento. Medo da dor. Eu também tinha medo da dor. Ficou-me gravada na memória a minha histeria às duas da tarde prostrada em frente a um banco de pedra, a chorar ao a gemer que não queria mais, não aguentava mais, estava a estilhaçar-me, estava a ESTILHAÇAR-ME!

Por Isso Se Ouvem Nitidamente Os Seus Silêncios A Gritar

E eles esventram. Não que eu me esteja a queixar. Um hospital é sempre parecido com um hospício. Não que estejamos propriamente afectados da cabeça, mas sim porque os pensamentos das pessoas que se arrastam pelos corredores, chocam connosco quando nos tentamos deitar na cama. Eles ocupam todo o espaço. São enormes, duros. São buracos negros de tristeza e solidão. Remoem-se as vidas, os destinos, as escolhas, as maleitas. Remoem-se impossibilidades. Tudo na vida que não é experimentado, que não é ousado, não o é simplesmente pela sua impossibilidade. As pessoas vivem para a experiência, para tocarem. Se não tocam é porque algo as impede. É porque esse acontecimento era de alguma forma incompatível com outras escolhas e ia deixar a nu a relatividade dos sentimentos. As pessoas convivem mal com as contradições. Contornam-nas, apagam-nas, ignoram-nas. Para elas, tudo na vida tem a sua coerência. Mesmo o absurdo. Por isso se ouvem nitidamente os seus silêncios a gritar. (Para Na

E Eles Esventram

O desapego da infância feliz. E pergunto-me, pergunto-te, será o amor a doença? A doença, murmuras incrédulo. Mas a loucura é doença, é palpável, é intimidadora. É um facto. Mas não. A loucura é um destino que se nega aos cobardes. Sabes que na loucura navegam rasgos de compreensão geniais? As pessoas enlouquecem ainda mais com a estúpida clarividência, a extraordinária simplicidade da teia da vida. Eu falo da corrosão do corpo, que verga a alma. A tenra humilhação do nosso corpo nu, as mãos que nos tocam e nos interrogam. E sim, a dor é intensa e alojou-se no nosso corpo. Posso tocá-la, posso penetrá-la, posso esventrá-la, posso rasgá-la, perguntam eles com aquela voz monocórdica, aquela voz profissional, aquela voz que nos atravessa como se fossemos meras marionetas. Sim, e a minha voz não passa de um fio de voz muito ao longe, muito distante, noutra dimensão. Onde eu estou só eu acedo, onde eu estou só eu reino, murmuro palavras de ladainhas que não conheço, não se