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A mostrar mensagens de junho, 2010

O Desapego da Infância Feliz

Os lençóis não têm o nosso cheiro. É por isso que me mexo na cama, a pele a suar, os olhos a retorcerem-se num sono privado de descanso e visitas de Pã. Porém, na tua cama és igual - dizes-me tu num tom reprovador - nunca vi quem tanto se mexesse e remexesse na cama… Agarro-te, toco-te, acalmo-te, faço-te festas no cabelo, mas gemes, amor, gemes de noite e eu não consigo dormir, presa no teu desassossego. Tenho medo dessas noites, do teu rosto sereno que de repente se contorce num esgar de infelicidade momentâneo. Fico horas a imaginar os teus sonhos, quem te persegue, quem te tortura sem piedade. Encolho os ombros. Dormir desassossegada é o destino de todas as crianças que não conhecem o desapego da infância feliz.

Os Lençóis Não Têm O Nosso Cheiro

Humana. É uma triste condição, a meu ver. E porém… inevitável. Imprevisível. Como a tudo o que é imposto, sinto raiva de ser e permanecer humana. Procuro em mim uma característica, uma única característica que me prove que sou única, inimitável. Regra geral, falho. Tudo no mundo está semi-feito, semi-concebido, semi-preparado, semi-parido. Os pensamentos que tenho como meus, já alguém os pensou, os provou, os moldou, os comeu. É por isso que ao pensar tenho a estranha sensação de estranheza que todos temos ao deitarmo-nos numa cama que não é nossa. Os lençóis não têm o nosso cheiro. (Descansa em paz, Saramago. Bem vinda ao mundo, Íris.)

Humana

Todos temos um pedaço secreto. Eu invejo o teu pedaço secreto. Queria poder ao menos vislumbrá-lo, tocar-lhe de forma egoísta e depravada. Todos somos assim, invejosos e ciumentos dos lugares do outro a que não podem aceder. Eu não sou excepção. É esse infinito que me escondes e me negas que eu mais amo, mais anseio e suspiro. É na busca incessante por esse mundo mágico ao qual não tenho acesso que encontro alimento para o contínuo fascínio que sinto por ti. Afinal, os humanos são seres complicados. Mais uma vez… eu não sou excepção. Sou inegavelmente humana .

Todos Temos Um Pedaço Secreto

(Decidi publicar um poema, mas achei-o demasiado extenso para o colocar aqui todo de uma só vez. Assim sendo, vou deixá-lo aqui dividido em várias partes. Espero que gostem...) É quando me sinto vazia que surge lugar para as palavras, para a escrita, para o perfume extasiante da poesia. Em todos os outros momentos estou demasiado preenchida de imagens, sons, cheiros, pessoas, silêncios e prazeres. Eu sei que não compreendes, por muito que te esforces, a intensidade da entrega. Não é algo que se descreva, que se consiga captar pelo simples suspirar no teu pescoço. Gostava de poder trazer-te para dentro da minha escrita, mostrar-te, sorridente, os seus limites que se encontram para além da minha própria compreensão. Queria poder fotografar o mundo da minha psique e mostrar-to abertamente. Todos temos um pedaço secreto .

O Meu Aqui

Deito-me numa cama de espinhos. Aqui, já nada mais importa. Deixa de existir um Sol e uma Lua. As regras desapareceram. O tempo deixou de escorregar Dentro do meu coração. A alma morre-me devagar. Nada faz sentido, aqui. Posso ouvir o teu sorriso, Posso cheirar as mãos com que me Acaricias as mágoas. Posso ser eu, aqui. Eu, tão lamentável. Eu, a consumir-me inteira. Posso ser eu, posso ser Aqui. E as palavras fogem-me como tu, Sempre tão perto E tão longe. Tu, a consumires-me. Aqui, não existem morais. Aqui, não existem medidas. Não existem linhas de acção. Pergunto-me como não me extingo Quando sinto em espiral. Aqui, posso sentir o meu tufão. Existem tantos mundos, Tantos dias e tempos infinitos, Existem pessoas e espectros, Existem serenidades e espantos... Existem tantas coisas banais... Mas aqui não. Aqui, não. MalDragon PS:(Hoje, falta-me a zona de Wernicke)